Confusão na cidade

Como tudo na vida exige treino e um período de habituação, nesta viagem não é exceção. Digo isto para justificar aquilo que me custou este dia, para não falar nas peripécias que se sucederam.

Embora o corpo fosse ligeiramente cansado das pedaladas do dia anterior, a motivação continua em altas. Parti de Peniche em direção a Lisboa, onde iria ficar em casa de um amigo.

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É curioso que em vários locais ao seguirmos as placas de direção normalmente leva-nos para autoestradas ou vias rápidas onde as bikes não podem entrar. Até aqui tudo bem, perguntas-se a alguém pela alternativa e rapidamente sou encaminhado para o sitio certo.

Almocei perto de Torres Vedras, mas hoje, ou por falta de força, ou peso a mais, ou muita subida, ou isto tudo junto, no geral a viagem custou um pouco, mas isto seria o menor dos meus problemas. Subi ao castelo de Torres Vedras e lá parei para atualizar “as internets” recorrendo a um painel fotovoltaico que gera energia através do sol, oferecido gentilmente pelos meus ex-colegas de trabalho.

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Continuei com muitas subidas pelo caminho e com um ritmo muito lento, chego a Loures por volta das 16h e penso “Bom, mais uma horica e chego ao destino”,mal sabia o que me esperava.

Em Loures mais uma vez, só perguntando às pessoas é que consegui seguir para Lisboa, pois as placas Lisboa apontavam sempre para vias rápidas, quase que entrei na A8. A certa altura peço nova indicação ao que me respondem “Suba esta avenida e lá em cima à direita”. Olho pra cima e vejo uma estrada a pique cheia de movimento, carros por todo o lado e lá fui no meio de carros, que ou não me viam ou não respeitam o pobre do ciclista. Chegando ao topo volto a pedir indicações para Lisboa ao que me respondem “Para Lisboa? Isso é para baixo, não é por aqui”………..

A descer, ao passar ao lado de uma carro estacionado, de repente a condutora abre a porta, ainda travei e desviei a bike mas como o atrelado é mais largo foi contra a porta. “Minha senhora, tem de olhar primeiro antes de abrir a porta!!” ao que me responde “Pois…”. Após o excelente diálogo continuei e lá consegui sair da confusão.

Entro em Lisboa e começo a perguntar como chego à marginal de bike? Ninguém me soube responder. Devido a um problema num cabo USB que afinal não carregou os equipamentos através das duas fontes de produção de energia que transporto, levava o GPS e o telemóvel desligados para poupar a pouca bateria que tinham. Não tive outra hipótese senão ligar o GPS que lá me orientou para uma ciclovia no centro de Lisboa (menos mal). Passado uns minutos acaba de vez a bateria e fico às escuras novamente.

Passo pela policia municipal e peço direções para Alcântara. Ao montar a bike o eixo traseiro sai do sitio. Desengata atrelado, tira esticadores, abre o saco, chegar à caixa da ferramenta, tirar a chave necessária para voltar a por o eixo no sitio, vira a bike ao contrário, põe eixo no sitio, arruma a mala e pronto, já está.

Sigo as direções do Sr. Guarda e dou por mim numa estrada de 4 faixas para cada lado com o braço esquerdo levantado a sinalizar que vou para a faixa mais à esquerda. Só visto.

Nisto chego ao aqueduto das águas livres e o eixo volta a sair. Desengata atrelado, tira esticadores, abre o saco, chegar à caixa da ferramenta, tirar a chave necessária para voltar a por o eixo no sitio, vira a bike ao contrário, põe eixo no sitio, arruma a mala e já está. Monto bike e o eixo volta a sair. Desengata atrelado, tira esticadores, abre o saco, chegar à caixa da ferramenta, tirar a chave necessária para voltar a por o eixo no sitio, vira a bike ao contrário, põe eixo no sitio, arruma mala e já está, mas desta vez deixei a ferramenta cá fora. Sigo viagem, ando 10 metros e o mesmo volta a acontecer. Percebo então que não vou longe e decido substituir o eixo por outro suplente, que estava no saco. Desengata atrelado, tira esticadores, abre o saco, chegar à caixa da ferramenta, tirar o eixo suplente, vira a bike ao contrário, põe eixo no sitio, arruma mala e já está.

Com o telemóvel desligado para poupar bateria, ligo-o para a chamada de emergência a avisar a Catarina, que estaria à minha espera para me receber em casa de um amigo, a avisar que estou atrasado devido a problemas mecânicos e volto a desligar o telemóvel.

Sigo mais uns metros e mais do mesmo. Percebo que possivelmente devido ao peso do reboque e principalmente pela força que faz no eixo ao virar, por falta de aperto, chave e parafuso moído, não vou longe. Nisto são 22h e tal e eu debaixo do aqueduto. 

Sigo com a bike à mão até uma estação próxima, onde vejo um táxi e decidi colocar o reboque no táxi, que coube no carro à justinha. Dei-lhe a morada para onde pretendia ir e pedi-lhe para ir devagar para ir atrás dele, pois não sabia o caminho. Um taxista devagar em Lisboa? Está bem… Perdi-o duas vezes de vista. Ainda tem o descaramento de parar e me perguntar “Isso não anda mais depressa?”……… Respondi que após 107Km pedalados, sem jantar e cansadíssimo, não, não anda mais depressa.

A certa altura vejo-me novamente num estrada com 4 faixas e o braço esticado para mudar para a faixa da esquerda a tentar acompanhar o táxi que já o começava a perder de vista outra vez, eram quase 23h.

23h e pouco, chego finalmente ao destino, mas a Catarina preocupada, sai à minha procura, mas rapidamente voltou. São e salvo, banho, cama e amanhã logo se vê como resolver o problema.

Obrigado Alexandre pelo alojamento e Catarina pela simpatia e hospitalidade.

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