Depois da visita ao “El Caminito del Rey”, defino como destino Málaga, para finalmente ver o mar espanhol e continuar costa acima, na esperança de encontrar estradas mais planas.
Defino o destino no GPS, que prontamente me calcula a rota. A certa altura envia-me para uma estrada de terra batida. Fico impressionado com a quantidade de estradas de terra que este GPS conhece. Desta vez não foi um atalho, foi um “atalhão” de 15km em terra a subir e a descer, a subir e a descer, a subir e a descer… Entenda-se subir com a bike à mão. Custou mas foi. No fim quando atingido o ponto mais alto e com não há subida sem descida, fui mais de meia hora a descer. Não me lembro de descer tanto tempo.
Ultrapassados os montes, ao entrar em Málaga passo pelo Bürger King com uma placa na porta “Wi-Fi Free”, encostei e aproveitei a net. Eram cerca de 20h, sem local definido para dormir, mas como estava junto à praia, qualquer cantinho serve. Fiquei até à 1h, onde aproveitei também para carregar alguns equipamentos.
Chegou a hora de sair dali e fui direto à praia. Procuro por um lugar não muito escuro nem muito iluminado e escolhi junto à marginal. Entrei na areia, coloco a bike junto ao muro e sento-me encostado à bike. A temperatura estava agradável, fico já aqui.
Nisto chega um grupo de jovens ingleses à praia em grande algazarra. O típico comportamento da malta nova quando sai de casa dos pais, para um destino diferente com um grupo de amigos. Pensei que até seria bom eles estarem ali, pois para além da companhia, afugentavam possíveis indivíduos não desejados. O barulho era tanto que não foi fácil adormecer, abre um olho, fecha o outro, conserta o corpo, estica as pernas…
A certa altura deito-me ao lado da bike. Passado uma hora acordo com o barulho do velcro da bolsa do mapa, da mala do guiador.
Estava a ser assaltado!
Sem pensar, a primeira reacção foi levantar-me e ir em direção ao indivíduo que está a um metro de mim a mexer na mala do guiador. Ao aproximar-me ele começa a recuar e pergunta “English? Espanol? English? Espanol?”, “Olha agora queres conversa?”, pensei eu. Continuo em direção a ele até que larga o que tem na mão e foge juntamente com outro indivíduo que estava mais afastado.
Quando os perco de vista, olho para a mala e tinha a bolsa da frente e de cima (são três ao todo) abertas e com as coisas cá fora! Possivelmente procuravam dinheiro e foram tirando tudo para fora muito cuidadosamente. Felizmente não chegaram à bolsa principal onde tinha os valores, carteira, telemóvel, tablet, câmara.
Começo a arrumar as coisas e noto a falta de um cab USB para carregar telemóvel e o kit de ferramentas da bike. Tendo em conta a situação, correu muito bem! Podia ter sido pior.
O grupo de ingleses continua na praia e desconfio deles. Passo os minutos seguintes de olho neles a ver se topava o indivíduo que falou para mim, pois pareceu-me ter sotaque inglês. O grupo não dava sinais de cumplicidade.
Desisti da minha investigação à CSI e as duas horas seguintes passei-as a pensar se ficava e continuava a dormir, se ficava de vigia o resto da noite ou se pedalada dali para fora.
Esperei tanto tempo na esperança de recuperar o material roubado. Optei por pedalar mais para a frente e nisto são 5h da manhã. Passei por outras praias mais calmas mas já desconfiava de tudo. Páro num jardim junto ao mar, faço da tal mala, almofada e tento dormir.
Assim que o sol nasce, pedalo mais para a frente até encontrar uma praia onde consiga levar a bike facilmente para a areia e dormir junto dela, na areia.
Eram 8h da manhã, lá encontrei o que queria, estaciono a bike e finalmente durmo, sobre a areia escura da praia.
Podia ter adormecido noutro lugar? Podia, mas assim não tinha uma história para contar! :)
Tens de arranjar um alarme, senão não dormes pá
Oh Pedro, vai para os parques e albergues, pois com a tua imaginação arranjas sempre histórias para contar :-)