Portugal à vista

Deixei o norte de Espanha e comecei a descer em linha reta até Vilar Formoso, fazendo o caminho típico do imigrante português. Aqui pelo meio, recebo uma chamada com uma proposta de trabalho que após alguns telefonemas aceitei. Devido a isso tive de apressar a minha chegada e decidi fazer uma surpresa à minha princesa e chegar mais cedo. Para tal, não atualizei o site com novos artigos assim como a minha posição no mapa e feitas as contas, decidi apanhar o comboio desde Vitória-Gasteiz até Salamanca. Até chegar à estação conheci um burro e um pónei, desejaram-me ambos boa viagem!

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Ao chegar à estação de Vitória-Gasteiz, no balcão disse o que sempre disse quando precisei de viajar de comboio “Quero ir para Salamanca e tenho uma bicicleta”, mas desta vez num idioma novo, portunhol. O senhor informa-me que tenho de mudar de comboio em Medina-del-Campo e dá-me três bilhetes, dois para Medina (um para mim e outro para a bike) e outro de Medina para Salamanca, mas apenas para mim. Não achei estranho pois em outros países por vezes tive de comprar bilhete para a bike, quando se tratava de comboios com lugares próprios para as bicicletas, ou não, se o comboio tivesse carruagens com zonas para bicicletas e havendo espaço podia entrar, sem comprar um bilhete adicional.

O comboio partiu às 12h e chegou a Medina-del-Campo às 13h, o próximo só vinha às 19h. Saí da estação e visitei a cidade que era muito simples e não tinha grandes atrações. Passei o tempo à procura de uma sombra pois o termómetro batia os 34º. As cores da cidade passam por um simples amarelo torrado, possivelmente devido ao sol forte. Como manda a tradição, aqui a maior parte do comércio fecha das 14h às 18h, pois é “hora de la siesta”.

Volto à estação uma hora antes e dirijo-me ao balcão para perguntar qual a linha do comboio, ao que o funcionário me responde que o comboio não leva bicicletas, daí a ter só um bilhete. “Então mas faz algum sentido venderem-me metade daquilo que eu pedi?”, disse já a ficar chateado. Pergunto por outro comboio que leve bicicletas e a resposta “Não, não há comboio para Salamanca que levem bicicletas”. Mau, já a ver o caso complicado olho para o mapa para perceber que outras cidades espanholas existem em linha vertical com Salamanca e próximas da fronteira portuguesa, mas nenhuma delas tinha comboios ou levava bicicletas.

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Mesmo assim decidi tentar a sorte e quando o comboio chega, vou para subir a bike para o comboio quando ouço “Ei, ei, ei, para onde vais?”, “Vou para Salamanca!”, mostro-lhe os bilhetes e a conversa repete-se. Volto a dizer que foi o que me venderam mas não pegou. Digo então que tenho de estar em Portugal dentro de dois dias e senão apanhar este comboio não chego a tempo. Insisti tanto que o senhor começou a ralhar a dizer que não e barrou-me a entrada para o comboio. Enquanto a porta fechava ainda disse “Tens de ir para Ávila e depois para Salamanca” e o comboio parte.

Fico com esta informação nova e vou dizê-la ao senhor do balcão que após verificar no computador me confirma que é possível, ao contrário do que inicialmente me tinha dito… Eram 19h, o comboio para Àvila só vinha às 22h e lá, só às 23h é que o comboio partia para Salamanca. Enquanto compro os bilhetes para este novo trajeto (e depois de exigir a devolução do dinheiro do outro bilhete) o funcionário diz-me que as duas raparigas que se encontravam no hall de entrada, que tinham chegado à pouco num comboio também de bicicleta, têm o mesmo problema que eu e pede-me que lhes explique a solução, pois não falava nem francês nem inglês. Ao explicar a alternativa, conversámos sobre as nossas viagens e a Cécile e a Margot viajavam de bike desde a Bélgica até Portugal, onde pretendiam percorrer a costa de norte a sul. Senti-me na obrigação de lhes dar o meu contacto caso precisassem de algo ao passar na minha zona e assim o fiz. Bon courage Cécile et Margot!

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Viagens de comboios feitas, já passava da meia-noite quando cheguei a Salamanca e como já era tarde saí da cidade para procurar sitio para acampar. Fiquei com pena de não ter visitado a cidade pois ao atravessá-la pareceu-me bonita e interessante. Com os edifícios históricos iluminados, pareceu-me ser uma boa hora para a visitar e possivelmente com uma envolvência que não se consegue desfrutar de dia.

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No dia seguinte logo a começar o dia, passei por uma placa que dizia “PORTUGAL 107km” e aí percebi que estava quase, que só faltava um bocadinho e o coração disparou, bombeando o sangue mais rápido de forma a que o corpo reagisse à emoção de se sentir próximo de casa, mas a estrada era daquelas retas sem fim numa zona um pouco deserta, que após uns minutos se tornam aborrecidas, mas a vontade de passar a fronteira era mais forte.

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Perto da hora de almoço e pela segunda vez nesta viagem, deixei acabar a comida que tinha. Apenas tinha uma sopa, amendoins salgado e um resto de gomas. Quase tudo misturado, foi um pitéu que deu força suficiente para chegar ao próximo supermercado, já ao final do dia, em Ciudad Rodrigo, a última grande localidade espanhola antes da fronteira.

É uma cidade que só se percebe a sua parte histórica, saindo da estrada principal e subindo o pequeno monte que se esconde por detrás da parte “nova”da cidade. Ali encontra-se uma praça, vários edifícios dentro do mesmo tipo de construção, uma igreja e todo eles protegidos pela fortaleza que os rodeia.

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Num dos lados da fortaleza passa um rio, onde existe uma pequena praia fluvial, ponto de encontro dos habitantes locais e das redondezas. Ali passei o final de tarde a conversar com vários espanhóis.

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Estava para acampar por ali, mas as pessoas permaneceram até tarde ou talvez por saber que faltava mesmo pouquinho para chegar à terra que tanto ansiava, decidi fazer mais uns quilómetros,. Fiquei entre uns arbustos ao lado de uma estrada pouco movimentada, onde cozinhei para jantar 6 ovos cozidos com uma salada de tomate, cebola e queijo e consciente que estava apenas a pouco mais de 15km de Portugal.

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Espanha está a ficar para trás e Portugal já está à vista! Até já Portugal!

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