3, 2, 1, entrei em Portugal!!!!
Esperei um pouco pelo amigo Filipe Bagagem que fez questão de me acompanhar na reta final desde a fronteira em Vilar Formoso até casa e juntos entrámos em território nacional. Com ele veio também a Ana e seus pais que trouxeram o almoço. Entre as várias iguarias soube-me muito bem os rissóis, petisco que já há algum tempo não saboreava.
Iniciámos o caminho até casa, mas antes, havia um último desafio a fazer, havia uma última montanha a conquistar. Subi muitas montanhas até aqui e por qualquer razão decidi subir até à Serra da Estrela. O Filipe aceitou e seguimos em direção à Torre.
Saímos de Vilar Formoso e fomos pela estrada nacional até à Guarda e daqui até Valhelhas, já no início do Parque Natural da Serra da Estrela, muito próximo de Manteigas. Passámos ainda pela barragem do Caldeirão e a certa altura ao entrar numa estrada de terra batida tivémos de pedir direções. Mais à frente descobrimos um parque de campismo e nem hesitámos. Tenda montada e jantar na barriga ,fomos dormir pois o dia seguinte prometia.
Na manhã seguinte ao prepararmo-nos para sair, conhecemos o Fernando Nunes, lisboeta e com raizes na zona da Serra da Estrela, estava acampado uns dias na sua autocaravana, naquele parque de campismo. O Fernando já perdeu a conta aos países que visitou e ao saber da minha aventura, partilhámos histórias, mais ele do que eu, pois o portefólio e conhecimento de outros países, por parte do Fernando, era impressionante. Eram cerca de 9h quando começámos a conversa e estávamos tão entusiasmados com os contos do Fernando, que só às 12h nos despedimos e finalmente partimos. Deu-nos algumas dicas para o caminho que tínhamos pela frente e foi muito agradável conhecer o Fernando. Até uma próxima amigo Fernando!
Depressa chegámos a Manteigas, estávamos apenas a 15km, e ao chegar, várias placas indicavam uma estrada cortada de acesso à torre, devido a obras na via. Tentámos saber se as bicicletas passavam e alguém nos disse que sim e arriscámos. A estrada seguia pelo Vale Glaciar e a partir daqui, foi sempre a subir até à Torre. Pedaladas muito lentas, fizémos várias paragens, o sol estava a aquecer e fui obrigado a fazer a estrada aos ziguezagues, facilitando um pouco a subida que por vezes era muito inclinada.
A meio da subida, percebemos a razão da estrada estar cortada, estavam a substituir o alcatrão e a partir daqui a estrada estava toda esburacada pronta para levar novo alcatrão e com areia, o que dificultou a subida.
Quando chegámos ao Centro de Limpeza de Neve, fizémos uma pausa mais longa, mas o pior ainda estava para vir. A parte mais difícil começava agora. Mais inclinação, mais sol quente e mais quilómetros já com as pernas cansadas. Esta última parte foi feita ainda mais devagar. Pelo meio alguém dizia “Mas que raio de ideias…”. Passa um ciclista por nós também num ritmo lento. Em outras situação teria sido motivação para puxar mais um pouco e tentar apanhá-lo, mas naquele momento não conseguia passar dos 6km/h. Ao fazer as curvas finais, a placa dos 1950m de altitude surge à nossa frente e com ela a sensação de estarmos próximos, juntamente com uma vista cada vez mais ampla e bonita.
Cerca de quatro horas depois estávamos no ponto mais alto de Portugal continental e no segundo mais alto de toda esta viagem, a Torre da Serra da Estrela! A Torre é mais pelo simbolismo, pois a vista é mais bonita durante a subida. Demorei mais do que a subida para Simplon Pass na Suiça, que está praticamente à mesma altitude, o que só por si revela que a Serra da Estrela é um pouco mais dura.
Enquanto descansávamos do esticão, vestimos os casacos pois a temperatura era outra, acompanhada de vento e visitámos o comércio tradicional que ali existe onde se vendem os produtos típicos da região, enchidos, queijos e peles. Decidi comprar uma morcela e ao aproximar-me do balcão, pergunto se quem sobe de bicicleta até à Torre, não merece um desconto. Conversa puxa conversa, acabei por contar a minha viagem e ao dizer que já tinha perdido 13 quilos, a simpática Luisete ofereceu-me uma fatia de pão com presunto, outra com queijo e um licor. No final ainda nos ofereceu a morcela. Obrigado Luisete e Sérgio, gostei muito de vos conhecer!
Seguiu-se a descida em direção a Seia, ao contrário do que tínhamos inicialmente planeado, mas todas as sugestões nos indicavam que era mais fácil ir para casa por Seia. Como quem sobe, também desce, a caminho de Seia pudémos descansar um pouco as pernas e apreciar a vista do outro lado das montanhas.
O dia terminou no parque de campismo de São Gião, à saída de Seia. A chegada aproxima-se!!!
